quarta-feira, 19 de junho de 2013

DIÁRIO DE UM MANIFESTANTE


O texto abaixo é absolutamente ficcional e, apesar de se inspirar nos eventos recentes, não guarda nenhum compromisso com a realidade dos fatos nem faz referencia a qualquer pessoa real. Que fique claro que sou a favor de qualquer manifestação pacífica que vise a garantia dos direitos fundamentais dos cidadãos, sempre vilipendiados pelos nossos ilustres governantes.

DIÁRIO DE UM MANIFESTANTE

Acordei bem cedo, lá pelas 10:00 da manhã. Liguei o liquidificador e mandei um açaí irado para dentro. Joguei video-game até as 12:30. GTA é foda! Tomei um banho quente enquanto minha coroa terminava de fazer o almoço. Saí do chuveiro as 13:30, o rango tava servido. Esperei minha mãe cortar o meu bife e mandei ver um prato daqueles. Depois de comer, levei uns 20 minutos para escolher o tênis que usaria, fiquei entre o Nike e o Addidas, por fim escolhi o Addidas. Peguei minha mochila e conferi o conteúdo: 12 barras de cereal; 1 garrafa pet pela metade cheia de uma batida da semana passada; 1 garrafa de vinho; 1 bandeira do Corinthians; 2 apitos; e o dinheiro do busão.

A campainha tocou, era o meu amigo, tava na hora de dar linha. Entramos no busão com mais uns vinte manifestantes. Eu já tava com o dinheiro da passagem na mão, quando vi a galera toda pulando a roleta. Guardei a grana e pulei também. O transito tava sinistro, demorou umas duas horas para chegar no centro. Desci do balaio e já avistei o mulão de gente, os mano tudo com cartaz cantando o hino nacional. Eu não sabia a letra, mas já cheguei pulando, balançando os braços e gritando. Depois do “ouviram do Ipiranga”, eu me atrapalhei, então mudei a música para “aqui tem um bando de louco...”. Ninguém percebeu.

Ficamos lá protestando até o final da tarde, o transito parou, e uma renca de repórter apareceu pra filmar nóis. Até o “globocop” tava presente. Até então, tudo na paz, só a galera cantando, gritando e protestando na moral. Foi aí que os mano decidiram começar a marchar rumo à prefeitura. A galera nos prédios deu o maior apoio, piscaram as luzes, jogaram papel picado em nóis, foi demais, parecia uma micareta.

Chegamos à porta da prefeitura e a galera começou a gritar e balançar os cartazes, a maioria gritava: emprego, transporte, saúde e educação. Na verdade eu não tava entendendo direito, então perguntei pro meu amigo.

— Quê que nóis tá reivindicando, mesmo?

— Sei lá, mano. Repete o que a galera tá falando!

Prestei mais atenção e comecei a gritar: Emprego, transporte, saúde e educação. Emprego, transporte, saúde e educação...

O problema é que tinha um mano perto de mim gritando “abaixo a ditadura”, e tava me tirando a concentração, mas logo alguém explicou pra ele e ficou de boa.

A policia ficou na porta, só observando a galera, tinha mais gente que no jogo do Corinthians. Depois de um tempo, a galera ficou mais nervosa e uns mano foram pra cima dos polícia. Quando eu vi, fui atrás pra ajudar. Rapidão os homi correram pra dentro do prédio, então a galera começou a arrancar as grades de proteção. Eu e meu amigo fomos ajudar. Arrancamos as grades e alguém teve a ideia de quebrar as vidraças. Quebramos tudo, e ficou caco de vidro pra todo lado. De repente, tinha um monte de manifestantes tentando segurar a galera que tava quebrando. Eu fiquei bolado.

Tâmo junto, galera! – Eu falei, mas ninguém escutou.

Tinha dois grupos lutando pelas grades, não dava pra ver quem queria quebrar e quem queria parar a quebradeira. Meu amigo escolheu um lado e começou a puxar, e fui junto e ajudei. De repente, uma bomba de gás caiu perto de nóis, ficou tudo enfumaçado e os mano dispersou. Quando eu vi, tava sozinho, segurando a grade. Como tinha uns outros mano quebrando o resto das vidraças, eu também quebrei. Aí a galera começou a gritar: “violência não, violência não”. Eu levantei a grade e gritei também: “violência não, violência não”.

Nessa hora, a coisa ficou tensa. Todo mundo olhou pra mim, e eu continuava gritando: “violência não, violência não”. Então eu parei. Larguei a grade e ia votando pra galera quando “o choque” apareceu. Choveu bomba de gás e logo depois o bicho pegou, bala de borracha comeu e o mulão começou a correr. Procurei meu amigo, mas ele tinha sumido, corri com a galera, que começou a dispersar pelos quarteirões. Quando as coisas se acalmaram, voltei a procurar meu amigo, o achei sentado no meio fio, tinha sido atingido por uma bala de borracha, bem na barriga, tava sangrando um pouquinho, mas ele tava bem.

— Tá doendo? – Perguntei.

Pra carái! – Ele respondeu. – Vai ficar uma marca.

— Maneiro. – Abri a mochila e tirei a garrafa de batida e duas barras de cereal. – Come aí, mano.
Meu amigo pegou a barra e a gente ficou lá, comendo e bebendo a batida. Rapidinho chegou mais uns chegados; tinha um maluco com um violão, a gente fez um roda e começou a cantar Legião. A bebida acabou rápido, mas foi legal.

Cheguei em casa duas da madruga. Caí na cama e desmaiei. No dia seguinte, acordei ao meio dia, com uma ressaca sinistra.


— Ainda bem que o protesto hoje é mais tarde. – Falei para mim mesmo


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