segunda-feira, 10 de junho de 2013

RESENHA - TRILOGIA JOGOS VORAZES

Tire as perucas coloridas do guarda roupa
 
 
Um futuro distópico, o mundo dividido em treze distritos e uma competição insana para reafirmar o poder do governo faz jovens se matarem em um “show” televisionado para todo o mundo.

A premissa inicial da trilogia “Jogos Vorazes” não pode ser considerada, de fato, original. Acredito que todos podem lembrar de, pelo menos, uma obra com características semelhantes, onde pessoas são obrigadas a matar outras contra sua vontade, e entre eles surge um herói que contesta o sistema e tenta “mudar as coisas”.
 
Suzanne Collins traz uma obra com elementos antigos, mas com um certo fôlego novo.

Conheci a obra, inicialmente, através da adaptação cinematográfica. Gostei do filme, mas senti que faltava “algo”, como se alguns aspectos tivessem sido abordados de forma exageradamente superficial. Quando terminei de ler o primeiro tomo da série, conclui que estava certo, ao menos em parte.

A obra audiovisual, de fato, vilipendia aspectos importantes da história, especialmente a relação da protagonista, Katniss Everdeen, com seu “amigo”, Gale Hawthorne. Há uma confusão de sentimentos de Katniss em relação a dois rapazes, mas que, graças a Deus, passa longe de ser o cerne da trama. O que está em voga na história é a configuração política que o mundo tomou e o paradoxo entre os estilos de vida dos distritos e do Capitol.

Apesar de carregar uma boa ideia, e uma narração interessante em primeira pessoa, a obra se estende na competição na arena, e deixa de abordar aspectos importantes como, por exemplo, a insatisfação dos distritos diante do poder opressor do capital, o que deixa a história cansativa.

Como se trata de uma trilogia, a narrativa arrastada do primeiro livro deixa a expectativa de uma sequencia mais ágil e voltada para a revolução dos distritos contra o Capitol. Mas no segundo tomo, “Em Chamas”, após acompanharmos e Katniss e Peeta Mellark na turnê dos vencedores, a volta dos dois para a arena dos Jogos Vorazes me fez desanimar em prosseguir a leitura, que não foi ruim, mas permaneceu arrastada como no primeiro livro.

Novos personagens são apresentados, e seu comportamento dúbio cria uma interessante confusão na cabeça do leitor, que durante a maior parte da leitura não pode ter certeza de quem são os aliados e quem são os inimigos.

Toda a – enorme - sequencia na arena é criativa e bem contada, mas cansa por deixar de lado o lado político da trama e se resume aos temores e aspirações da mente confusa de Katniss.

Chegamos ao fim do segundo livro com um final interessante, que abre possibilidades para que o terceiro, e ultimo, seja o melhor dos três.

De fato, “A Esperança” foi o meu preferido entre os três, pois carrega um clima mais denso e sombrio. No entanto, continua arrastado, com longos capítulos onde nada acontece, e apenas ouvimos os pensamentos atormentados de Katniss, e sua falta de “esperança”. Os combates físicos, agora, são mais interessantes, pois deixam a arena para ganhar cenários diferentes. A disputa política também ganha maior destaque, com a descoberta de uma pequena potência no supostamente dizimado distrito treze.

 
Nesse ponto, Katniss deixa de ser a protagonista, passando a ser um mero joguete numa disputa que passa a ser mais publicitária do que bélica. A queda de braço entre o Treze e o Capital faz um paralelo interessante com a nossa sociedade, onde a ideologia é despudoradamente atropelada pela manipulação da massa.

A mente de Katniss, por sua vez, está cada vez mais atormentada e confusa, e a obrigatoriedade de interpretar um papel a deixa desconcertada a maior parte da história.

Collins não tem pudor de matar seus personagens, o que é bom, pois o mundo está em guerra. E uma guerra nunca é um retrato bonito. A violência também se acentua no fechamento da trilogia, e as descrições não poupam o leitor do horror da guerra.

A parte final do livro nos leva por um caminho escuro e frio, sem nenhuma beleza e, na contramão do título em português, sem nenhuma esperança. O desfecho é impactante e absolutamente pessimista. Não há felicidade para ninguém e a sensação é de que as coisas mudam, mas continuam como eram. São apenas mãos diferentes, mas infligindo os mesmos castigos.

O final sombrio e sem esperança me comprou, e fez com que eu não me arrependesse de ler os três livros.

Jogos Vorazes não é a obra prima da literatura moderna, longe disso. Mas para quem chegou aos cinemas com a alcunha de substituir a saga Crepúsculo, pode ser uma grata surpresa.
Leia aqui um trecho do livro.
Veja o trailer do filme:
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário