segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

[RESENHA] Doce Sonho Letal - Sheila Lima Wing

Neste terceiro volume da saga DSA, antes de começar o oitavo ano no Instituto, Evangeline Maria descobre um dos maiores segredos que assombram sua existência, mas longe de isso trazer alívio ou alegria, uma reviravolta total acontece. Entre perdas e tristezas, Evie procura se agarrar a todas as coisas que remetem ao passado, porém, as mudanças são implacáveis e até mesmo os seus amigos já não parecem os mesmos, pois todos estão começando a entrar na fase da adolescência. Enquanto tenta se adaptar ao turbilhão de emoções, realidade e fantasia se misturam, chegando a colocar em dúvida a sua própria sanidade. Seu anjo imaginário passa a aparecer nas horas mais inconvenientes, em plena luz do dia. Infelizmente, ela já não tem tanta certeza de que poderá fugir para sempre da misteriosa mulher de moicano, e sente que ela está cada vez mais próxima, talvez usando como espiãs duas mulheres estranhas que passam a frequentar o Instituto A. W. Sigma durante os preparativos de um grande evento que acontecerá no fim do ano. Será que um sonho pode ser capaz de consumir a mente de uma pessoa a ponto de se tornar letal? Ou são os sonhos não realizados que nos matam por dentro? Entre mistérios, dores e alegrias, nossos jovens aventureiros vão aprender duras lições e descobrir um mundo mágico que até então parecia irreal.




Uma nova fase da vida de Evie

Depois de acontecimentos reveladores no segundo volume da saga, Evangeline está de volta, com desafios ainda mais complexos. Neste terceiro livro, mais uma vez temos uma evolução na trama, de acordo com a evolução da protagonista, que, à medida que envelhece, torna-se mais madura. Além dos mistérios que rondam sua vida desde que começara a estudar no Instituto A. W., agora Evie tem que enfrentar algo bem mais doloroso (não posso contar o quê, mas leiam e descubram).

O livro já começa com uma grande revelação, algo que eu jamais poderia imaginar. E essa revelação vem com muita dor para a protagonista, e a coloca em um conflito difícil de ser resolvido. A história segue diretamente os acontecimentos do último volume, mas tem uma carga dramática muito maior. Na maior parte da história, temos menos ação e mais drama, e isso é muito bem dosado de acordo com o momento na vida de Evie.

Aqui temos mais momentos da rotina de Evangeline, a superação de um grande trauma, enquanto o mistério, ainda que sempre presente, fica em segundo plano. Seguindo uma abordagem mais adulta, Sheila trata de temas pesados, e até polêmicos, como aborto, bullying, e abuso sexual, mas de uma forma sensível, deixando que o leitor absorva aquele tema e elabore sua própria opinião.

O desfecho do livro guina a história para uma sequência tensa que culmina em uma nova grande revelação, um evento traumático e um gancho para o próximo volume. Sheila continua com uma escrita caprichada, e trazendo uma história adolescente que não força romances melosos e pouco verossímeis, com uma série concisa e muito indicada para jovens na idade da protagonista, que possam crescer junto com Evangeline. Contudo, eu, na altura dos meus 30 anos, me diverti e me angustiei com os personagens e fiquei na curiosidade pelo próximo volume.

Se essa história te interessou, acesse os links e saiba como adquirir:


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sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Antologias: Sonho ou Pesadelo?

Escrever. A arte de transformar palavras em histórias, transformar frases em sensações e sentimentos. Para quem o faz com amor, escrever é libertador. Mas, na maioria das vezes, apenas escrever não é o bastante. Na maioria das vezes, o artista não se contenta em produzir sua arte para si, ele quer compartilhar, dividir com o mundo as maravilhas que sentiu e criou. Pode parecer simples e fácil (na verdade, eu acho que nem parece simples nem fácil, mas há quem pense assim), mas dividir sua arte com outras pessoas não é tão fácil assim. E muitos escritores ainda enxergam apenas o caminho tradicional para levar seus escritos até o mundo: a publicação através de editoras. No entanto, conseguir ter um original aprovado por uma editora poderia ser o 13º trabalho de Héracles, sem fazer feio frente aos outros 12. Ter seu original lido já se torna algo extremamente difícil, fazer um editor acreditar no potencial mercadológico da sua obra chega a parecer impossível para o escritor iniciante, sem expressão, sem público formado.

Mas os escritores querem ser publicados, essa vontade pungente é tamanha que revira suas entranhas e volve seu cérebro, causa crises de ansiedade, depressão e as mais variadas doenças do corpo e da mente. É aí, nessa carência do escritor desconhecido, que entra o tema de hoje: As Antologias.



Antologias literárias são nada mais que coletâneas de textos, que podem ser contos, crônicas, ou poemas. Aqui, trataremos especificamente as antologias onde autores são selecionados para comporem obras compiladas por editoras. Resumindo, funciona da seguinte maneira: Editora X anuncia que estão abertas as inscrições para a antologia Y, cujo tema dos contos deve ser W. Os autores devem, dentro do prazo estabelecido, escrever um conto, de acordo com as especificações exigidas por edital, e inscrevê-los na seleção. Teoricamente, a Editora X lê todos os trabalhos e escolhe aqueles que julga serem os melhores. Então, os textos devem passar por todo o processo editoral cujo resultado será um livro publicado com aqueles textos.

Para o autor, é um ótimo negócio, não? É bem mais fácil ser selecionado junto com outros autores em uma coletânea do que convencer uma editora a trabalhar em um livro só seu, não é verdade? Fazendo parte da antologia, ele terá a visibilidade que sonha, e, agradando o público, suas chances de ter seu livro aceito por uma editora, quem sabe a mesma da antologia, que já o conhece, é muito maior, é ou não é?

É… Mais ou menos, mais ou menos.


Na prática, a coisa não é bem assim. Sem jamais generalizar, mas afirmando que é o que acontece na maioria esmagadora dos casos, o sonho não é tão colorido como pode parecer. Na maioria das coletâneas, o problema começa no financiamento do projeto. A editora, quase sempre de pequeno ou médio porte, ou uma gráfica fuleira travestida de editora, costuma exigir que os autores financiem a edição do projeto, seja em pagamento direto, seja na compra de um número determinado de exemplares. Chamam de parceria, mas querem enganar a quem?

Num exemplo fictício (mas que pode nem ser tão fictício assim), você é aprovado para participar da antologia, com um texto que não pode ultrapassar 8.000 caracteres (o que dá pouquíssimas páginas), mas, para participar de fato, é obrigado a adquirir 10 exemplares do livro a preço de capa (isso mesmo, sem desconto, e ainda paga o frete).

Qual o problema disso? Alguém poderia perguntar. Se o autor concordou, não há nada de errado, é uma ajuda mútua, uma parceria. Pedindo perdão antecipado pelas palavras, parceria é o caralho, porra nenhuma. Isso é pimenta no rabo dos outros, mesmo!


Deixe eu me explicar melhor. Não há ajuda mútua, há apenas uma editora de meia tigela (salvo raras exceções) ganhando dinheiro à custa da ingenuidade de um artista. Suponhamos que a antologia do exemplo reuniu 20 autores. Cada um deles é obrigado a comprar 10 exemplares por 35 reais cada. 20 X 10 X 35. 7000 reais. Suponhamos, ainda, que, incluindo os 200 exemplares comprados coercitivamente pelos autores, a editora (nem sei mais se posso chamar essa empresa de editora, mas vamos lá… a editora imprime uma tiragem de 400 exemplares (como sou otimista). Esse livro, que dificilmente passará das 150 ou 200 páginas, terá um custo de impressão, com uma qualidade digna das grandes editoras (o que nem sempre é o caso), que jamais passará (isso jogando muito por cima) de R$12s cada. Bem, aí se foram R$4.800. Dos 7000, ainda sobraram 2200. Essa quantia cobre com folga os serviços de diagramação, revisão e capa, dentro do que uma editora consegue negociar e considerando a qualidade da maioria dos trabalhos do tipo. Acontece que muitas dessas editoras não contratam um revisor, algumas fazem uma diagramação sem vergonha no MS Word, pedem a capa para o sobrinho que manja de photoshop, utilizando imagens que “baixou no google”, e é isso aí. No fim, todo o projeto foi financiado pelos autores e ainda sobrou um bom trocado para a editora. E, percebam, até esse ponto, nenhum exemplar foi vendido além daqueles comprados pelos próprios autores.

Com seu lucro garantido, a editora não vê necessidade de divulgar e distribuir o livro. Vamos colocar no site e esperar que esses autores vendam. Mas os autores não vão vender, porque não têm público, lembram? Por isso procuraram a publicação por uma editora. Dos 10 livros que já compraram, muitos vão amargar esse peso em seu guarda roupa. Os mais sortudos ou populares, venderão entre seus parentes e amigos, talvez consigam mais 5 a 10 vendas além dos 10, todas para amigos e familiares. Pessoas que compram a obra por apreço pela pessoa, e não pela obra. Que lerão apenas o conto do autor que lhe vendeu, que não vão divulgar, não vão resenhar a obra, não vão indicar aos seus amigos e nem lê-la no metrô para que outras pessoas vejam.

Sobre os direitos autorais dos exemplares vendidos, o autor nem sonhará com eles.

Depois de um ano, o autor que despendeu seu tempo, seu dinheiro e sua esperança no projeto, olhará para a própria estante e verá aqueles exemplares lá, um ao lado do outro, formando grande retângulo entres seus livros, um tijolo de fracasso e decepção, e lamentará por todo o tempo perdido. Pesquisará sobre o livro na internet, e só encontrará postagens de outros autores da antologia, datadas de, no mínimo, 8 meses atrás, quando ainda havia esperança. A editora continuará lançando novas antologias e enganando novos ingênuos artistas. É um negócio da China, risco zero e lucro garantido.

Parece ruim, mas esta é a minha visão super otimista das coisas.

Recentemente, uma editora desconhecida publicou um edital para uma nova antologia. Nesse caso, os autores deveriam comprar apenas 3 exemplares da obra, mas por 150 reais (não se assuste, você leu certo). Mas, advinha só, os direitos autorais seriam pagos com esses mesmos 3 exemplares. Isso mesmo! O autor ia pagar a si mesmo, e, não importa quantos livros mais a editora vendesse, ele não teria direito a mais nenhum centavo. Parece totalmente excelente, não? E esse não é um caso isolado, esse tipo trabalho acontece todo o tempo, o ano todo. Não faz muito tempo que ocorreu uma grande polêmica com uma antologia envolvendo uma editora e várias notas de 300 reais. Não estou aqui pra falar disso, mas pesquise por aí e você vai descobrir.

Após ler este longo texto, alguém pode dizer que é muito tendencioso vindo de um autor fracassado, o qual nenhuma editora vai publicar e nem figura em antologias conhecidas. Bem, deve ser verdade. Mas o que está escrito nos parágrafos anteriores também é verdade. Já me inscrevi em antologias. A primeira que tive a chance de fazer parte foi organizada pela finada (já foi tarde) Editora Literata. Fui selecionado com dois contos e fique felicíssimo. Mais pra frente, descobri que todos os inscritos foram selecionados, e ainda foram poucos. Ainda assim, permaneci no projeto, o qual eu teria que pagar para participar, até que recebi a boneca do livro, que disseram estar já revisada, e aquilo foi tão traumatizante, um show de horrores, textos escritos com tamanha inabilidade, com afrontas tão colossais à língua portuguesa que coloquei meu rabinho entre as pernas, peguei meus contos e saí de fininho.

Contudo, eu posso apenas ser muito invejoso e amargurado. Tire suas próprias conclusões e comente o que quiser. Xingamentos e ofensas serão aceitos com gosto.

Beijos.


No próximo texto, falaremos sobre meu primeiro livro publicado por uma editora, e como isso foi uma grande mentira.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Quanto Vale a Vida? [A princesa, O engraçadão e O Velho Ditador]



Quanto vale a vida de uma pessoa? Para os senhores da guerra, tanto quanto um Bubbaloo sabor banana. Para um matador de aluguel, alguns milhares de dólares. Para um viciado, o preço de uma dose. A verdade é que a vida humana não tem preço, ou pelo menos não um que possamos mensurar com exatidão. Afinal, quando a morte chega, não há como comprar um adiamento do inevitável.

Mas por que essa introdução? Por que esses pensamentos desconexos no início do presente texto? Eu não faço ideia, talvez eu tenha em mente que vou ser remunerado por caracteres (mentira, ninguém vai ler isso, muito menos eu serei remunerado).  Se é certo que não há como mensurar quanto vale a vida, parece-me lógico que a vida só tem valor por que há a morte. Chegamos, então, ao questionamento que vem pipocando em minha mente desde o fim do ano passado. Quanto vale a morte?

O ano de 2016 foi marcado por um grande número de óbitos entre artistas bastante conhecidos.  Bowie, Cauby, Elke, Prince, Alan, Carrie… Entre muitos outros.  As redes sociais pipocaram de postagens pedindo para que 2016 acabasse logo, que estava sendo um ano desgraçadamente desgraçado. Será?

Quantas pessoas morreram no ano de 2016? E quantas morreram nos anos anteriores? Eu não sei. Aqueles que tanto reclamaram do ano que recém nos deixou sabem? Eu acho que não. A questão é que a morte é supervalorizada para alguns e subvalorizada para outros. Por que a morte de um artista de renome é mais triste, mais sentida, que a morte de um anônimo. Eu jamais vi alguém postar um texto em tributo ao gari que varria sua calçada e faleceu, vítima de um atropelamento e da displicência no atendimento em um hospital público. Mas se David Bowie morre, até aqueles que mal conhecem sua arte lamentam comovidos. Por que a morte de Bowie é mais lamentável que a morte do gari? Pessoalmente, David Bowie nunca varreu nenhuma calçada por onde eu ando, e, se fosse esperar por isso, teria que caminhar em meio a toneladas de lixo.

Num dos últimos dias do ano, após a morte da atriz Carrie Fischer, o jornalista Jorge Pontual, correspondente internacional da Rede Globo, fez uma piada ao vivo em um programa da Globo News, onde imitou o personagem Chewbacca, pegando os colegas desprevenidos. Foi uma piada de humor negro, de mau gosto, como todas as piadas de humor negro. Eu ri bastante. Quando revi, ri mais um pouco. No entanto, as redes sociais se derramaram de revolta contra o jornalista, acusando-o de desrespeitar profundamente a atriz e sua família.

Assista ao comentário de Jorge Pontual

Mas será que todas essas pessoas que se revoltaram contra Pontual nunca fizeram ou riram de uma piada parecida? Ou só é desrespeito quando é um artista do qual se é fã? Em 2016 também morreu Fiel Castro, as redes sociais se encheram de piadas sobre a morte do ditador. Eu não vi ninguém reclamando, pelo contrário, só percebi muitos se divertindo. Significa que a vida de Carrie Fisher vale mais que as de Fidel Castro, do gari atropelado, do motorista vítima de assalto baleado quatro vezes no peito, da criança recém-nascida morta por falta de atendimento médico adequado?

Há pouco mais de três anos, eu perdi meu pai. No dia do meu aniversário de 27 anos, a médica assinou seu atestado de óbito e o entregou em minhas mãos. Foi o dia mais triste de toda a minha vida, assim como os dias que precederam a data, e os seguintes, foram os mais difíceis pelos quais já passei. Quando me lembro daquele momento, ainda se forma um nó na garganta e tenho vontade de chorar. Eu penso todos os dias nele, e queria com todas as minhas forças que tivéssemos um pouco mais de tempo juntos. Essa morte é a que mais importa para mim.  Contudo, eu entendo que a morte é parte inevitável da vida. Todos vão partir um dia (ok, talvez o Sarney fique por aí, mas isso é outra história), e, claro, eu não gostaria de ouvir uma piada sobre a morte do meu pai enquanto estivesse velando seu corpo ou guardando luto pela sua partida. Mas também não me doeria como uma criança mimada, porque aquele momento, aquela dor era tão grande que um comentário ou uma piada qualquer teria um valor totalmente insignificante. Além disso, aquela dor era minha, aquele luto era meu, e não seria sensato nem justo esperar que todos sentissem o mesmo. Assim como é extremamente mesquinho e burro esperar que Jorge Pontual sentisse a morte de Carrie Fisher como sua família, ou como aqueles que amavam seu trabalho, e, em vez de fazer seu trabalho, chorasse como uma carpideira.

É fácil apontar, acusar, agredir. É difícil pensar e tentar evitar a hipocrisia, ser imparcial, ser justo. Ademais, a vida também vai acabar pra você, e é sua escolha vivê-la ou perder seu tempo acusando quem está apenas aproveitando a sua como lhe convém.


Deixe nos comentários sua opinião, ou uma piada envolvendo a morte de alguém que te fez rir.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

O BRASILEIRO NÃO LÊ POR FALTA DE GRANA?



Esta semana, me deparei com um texto ligeiramente obtuso sobre o preço do livro no Brasil. A peça ressalta o quanto o livro é caro, o que assusta os potenciais leitores. O texto ainda menciona pesquisas, as quais não especifica, para demonstrar que o brasileiro prefere livros religiosos e a Bíblia que clássicos do cânone nacional, clássicos que o autor diz serem caríssimos (cof cof). Pois bem, algumas coisas me incomodaram bastante no texto… Na verdade, o texto todo é um incômodo, e não por trazer à tona verdades necessárias, mas por apresentar uma visão extremamente limitada da questão, sendo mais um desserviço que útil. Então, assim como a Rede Globo, vamos por partes.

Em primeiro lugar, o livro no Brasil é caro? Sim, bastante. Não há incentivos que barateiem a produção editorial, isso é fato. No entanto, pense no preço de um ingresso de cinema. Em algumas cidades passa de 35 reais; se pensarmos em uma exibição em IMAX/3D, o preço sobe ainda mais. E, por acaso, as salas de cinema estão vazias? Sabemos que não. E sabemos que a maioria dos espectadores prefere gastar seu dinheiro com um ingresso de cinema, por duas horas de diversão incerta, do que comprar um livro, uma obra que vai proporcionar mais tempo de entretenimento, e que ainda pode ser divida com outras pessoas sem preço adicional. Percebem? Temos aí uma questão cultural, não financeira.

Para corroborar minha afirmação, vamos analisar se, realmente, o acesso à literatura é limitado a quem pode pagar por ela. Pensando nos grandes clássicos da literatura brasileira, é um erro pensar que são financeiramente inviáveis. Machado de Assis, Joaquim Manuel de Macedo, Bernardo Guimarães, Castro Alves, Julia Lopes de Almeida, Humberto de Campos, Álvares de Azevedo, Adolfo Caminha, Aluisio de Azevedo, a obra de todos esses autores encontra-se em domínio público. E esses são apenas alguns (Clique AQUI e veja a lista completa). Se você não sabe o que é domínio público, eu explico. Significa que a obra é livre de direitos autorais, que qualquer pessoa pode editá-la, imprimi-la, distribui-la, comercializá-la, adaptá-la, etc. No site governamental http://www.dominiopublico.gov.br/ é possível baixar, legalmente e de graça, grande parte dessas obras. O livro digital é uma realidade, e, atualmente, office boys e desempregados desfilam com smartphones de 2, 3, 4 mil reais. Não dá pra dizer que é por falta de dinheiro que não vão ler nossos autores clássicos. Além disso, existem sebos onde se encontra facilmente essas obras a preços irrisórios; sem contar as bibliotecas públicas e projetos não governamentais ( acesse http://bibliotecas.cultura.gov.br/ e encontre uma biblioteca pública perto de você). Ou seja, a questão é cultural, não financeira.

Mas as obras clássicas podem não ser tão acessíveis assim aos novos leitores, e não estou falando do preço de aquisição, e sim da compreensão de seu conteúdo. Um leitor pouco experimentado pode se entediar, ou mesmo não compreender determinadas obras, visto sua linguagem e contexto histórico. Isso é um grande problema? Eu digo que não, porque existe literatura contemporânea. Novos autores surgem aos borbotões, se despejam nas mídias sociais em busca de um espaço, além daqueles já consagrados que seguem produzindo literatura acessível. Claro que mercado editorial é uma máquina cheia de vícios, e que a busca incessante pelo necessário vil metal deixa escondido muitos tesouros literários enquanto empurra uma quantidade considerável de dejetos em forma de texto, mas, dada a atual situação, cabe ao leitor buscar as obras que realmente lhe interessam, despindo-se de preconceitos e deixando se influenciar mais pelo seu gosto que pela massiva propaganda das grandes potências do mercado. A literatura independente tem crescido cada vez mais, mais em quantidade que em força, mas tem crescido. E os meios digitais de leitura são cada vez mais acessíveis. Qualquer um com um smartphone básico, ou um computador, ou um tablet, pode ter acesso a centenas de obras, muitas vezes de graça. A questão é cultural, não financeira.

Tudo bem, a questão é cultural. Então, por que a situação não muda? Por que o brasileiro lê tão pouco, e, quando lê, muitas vezes caem em obra com tão insignificante valor cultural e literário?

É muito difícil mudar uma cultura arraigada num povo, principalmente quando os formadores de opinião e detentores do poder não têm interesse nessa mudança. Não há incentivos para que as pessoas expandam seus horizontes, para que consumam tipos diferentes de arte. A política do pão e circo é a dominante, e é muito mais barato montar um circo vagabundo e jogar migalhas de um pão bolorento que apresentar grandes espetáculos e oferecer vultuosos banquetes.

Um povo que não lê, não pensa, e um povo que não pensa, não questiona.


Ler no Brasil não é caro, mas não ler, sim; e o preço sempre vem, com juros bem maiores que os do seu cartão de crédito.